Em homenagem ao dia de hoje, o dia da mulher estou publicando esse texto que escrevi em pseudônimo feminino, assim como fazia Chico Buarque em suas músicas e Nelson Rodrigues em alguns textos de sua obra.
A EXTINÇÃO MASCULINA
Estava cá hoje pensando com meus botões. O mundo se diz evoluir,
mas o homem não muda, falo do homem, o ser masculino. Ainda, para a
grande maioria somos ainda meros objetos, pedaços de carne, refúgios
sexuais.
Isso já foi longe demais, já deu o que tinha que dar, na verdade já
demos o que tínhamos que dar, já é passada a hora deles
reconhecerem nosso valor como seres pensantes, e mais, superiores.
Em verdade vós digo, os homens se cuidem, não que me faça gosto
mas seus dias estão contados. Vocês têm percebido que os homens
têm se tornado cada vez mais dispensáveis? Não? Vou lhes provar.
Na época dos primórdios da raça humana, quando o ser humano ainda
era selvagem, as mulheres eram responsáveis por manter a raça,
procriar, cuidar da prole, manter viva a espécie. É por isso que
temos tantas reservas energéticas, seios, nádegas, celulite, essas
“gordurinhas” que tanto nos incomoda são pura e simplesmente
reservas para mantê-los vivos quando bebês, caso faltasse alimento.
Nessa época nosso valor ainda era reconhecido, os homens nos
defendiam com unhas e dentes passavam dias caçando e pescando (mas
pescavam mesmo), para nos alimentar.
Depois, com a “evolução” da espécie foram criando armas e
formas de demonstração de poder, aí começou nosso martírio. Como
eles tinham mais habilidade física no manuseio das armas já tomaram
nossa dianteira, e nós cuidando das crianças em casa enquanto iam
para a guerra, nós que segurávamos a barra quando eles voltavam sem
um braço ou uma perna.
Continuaram guerreando, e pior, começaram a filosofar.
Maldito seja o inventor do ócio criativo, enquanto eles pensavam
quem cuidava da casa? E o que surgiu dessa filosofia? Uma teoria de
que as mulheres são homens incompletos, pasmem, chamaram nosso
clitóris de pênis atrofiado. Foi quando também aprenderam a nos
abusar sexualmente, nos vender, trocar, éramos troféus e
colecionáveis em harêns.
Daí então a situação só piorou.
Na idade média foi uma maravilha, qualquer uma de nós que curasse
doenças, fizesse manuseio de remédios ou mesmo tratamentos com
remédios naturais era chamada de bruxa. E lá fomos nós arder nas
fogueiras da inquisição. Ah! Era de praxe também sermos oferecidas
pelos nossos maridos aos seus senhores feudais como cortesia, mera
hospitalidade, mas quando a peste negra chegou quem tinha que segurar
a barra?
Daí a burguesia ascendeu, iiixi! As coisas pioraram. Os homens
enriqueceram, começaram a acumular riquezas, ficaram ambiciosos,
quanto mais tinham, mais queriam, ficaram vaidosos e quanto mais
mulheres tinham, mais mulheres buscaram.
Na Revolução industrial, descobriram, enfim, que temos força,
habilidade e competência para trabalhar e o que fizeram? Começaram
a abusar de nossa força de trabalho, começaram a abusar de nós e
dos nossos filhos, trabalhávamos 18, 20 horas por dia.
Daí então, após anos sendo exploradas de todas as formas,
começamos a nos indignar, em pequenos grupos, aos poucos. Mas foi
mesmo no último século, após quase 3.000 mil anos de abusos que
nos rebelamos. Os homens no início relutaram em aceitar, não
queriam nos ver libertas do preconceito, mas nada que uma boa greve
de sexo não resolva.

Saímos das cozinhas e fomos para as ruas, para as faculdades, para
as grandes empresas. Ai sim as coisas começaram a mudar. Percebemos
que temos grande força, tanto dentro de casa quanto na política.
Agora estamos ativas nos mercado de trabalho, sustentamos a casa e
os filhos, sozinhas. Existem empregos que são preferencialmente
nossos, agora nossa feminilidade é mais respeitada, nossa gestação
é bem amparada e nossa integridade física também. É certo que
sempre existem aqueles que tentam nos tratar como antes, mas não
ficamos mais caladas, e eles, não mais impunes.
Hoje em dia já trabalhamos, já mantemos a casa, já sustentamos os
filhos, já matamos barata, trocamos lâmpada e o pneu do carro, já
abrimos pote de azeitona, e, a nossa maior proeza, se hoje queremos
ter filhos, não precisamos mais de um homem, a medicina, por meio da
inseminação artificial, nos concede essa regalia.
Então, após esse breve aparado sobre nossa evolução histórica,
venho lhes provar que os homens estão se tornando dispensáveis e
correm o risco de desaparecer da face terra. Do surgimento do
homo-sapiens até os dias de hoje, pouco evoluímos fisicamente, é
certo que algumas evoluções aconteceram, como o fato de termos cada
vez menos pelos.
Nossa real evolução foi mental e tecnológica. Assim como os cisos
pararam de nascer porque perderam sua utilidade, os homens também
estão diminuindo em quantidade, pelo mesmo motivo, e nós, seres mais
evoluídos, estamos nos tornando predominantes, na verdade já somos.
Estão perdendo aos poucos suas utilidades. Na verdade ainda servem
pra parte prática, como belo passatempo para as noites solitárias
de sábado, mas ainda sim continuam fazendo as mesmas burradas, se
soubessem o que o futuro lhes guarda...
Mas, sabe? Mesmo tendo sido tão maltratadas e ainda sofrermos nas
mãos deles, vamos acabar tendo piedade, como sempre tivemos com os
nossos imensos e misericordiosos corações de mãe.
Nosso amor não se cabe no peito, nossa capacidade de perdoar, nossa
compaixão e, principalmente, nossa consciência de que os pobres
coitados são iludidos pelas facilidades e gozos mundanos. São como
crianças num grande parque de diversões, mas sabem que chega a hora
de ir pra casa e receber um afago de uma mulher. Passamos toda a
nossa história perdoando-os e recebendo-os de volta, e quando eles
forem sumindo, vamos dar um jeitinho de preservar a raça deles.
Afinal... Quais de nos, cansadas do trabalho diário, não gosta de
chegar em casa e vê-la arrumada, as crianças com a tarefa de casa
feita, o jantar pronto e nosso homem esperando cheiroso no sofá pra
assistir a novela?
Camila Oliveira