segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A Arte de Pertencer

Primeiro o grande susto
Que tira dos seus pés tudo o que se tinha de chão
Todo o ar foge aos pulmões
As pupilas dilatadas contra qualquer engano
Sem ar, sem chão, sem acreditar...

O corpo entre em hiperventilação...
O coração acelera e bate mais forte
Depois do ar contido, no primeiro suspiro
Os olhos não conseguem mais não se molhar

E na tensão de segurar as lágrimas
Retorce o sênior, enruga a testa
E abriga o rosto entre as mãos
Somente os olhos a mostra, fixo para nada escapar

Arremessa os braços, adiantando-se o mais rápido possível
Segurando inutilmente para nada escorrer
Com o coração não cabendo mais no peito
Encontra o que o destino mais lhe guardava

Então, acontece...
O fim da espera, o sessar da ausência
O preenchimento do vazio que havia entre os braços
O reencaixe da parte ausente do seu peito, ou da vida

Enfim entregue ao que você pertence
O momento extensivo a alguns minutos
Será eterno, mostrará aonde sempre deveria estar
O abraço nunca terá um fim...

A ocorrência física da arte do encontro
Permanece eterna no seio de quem entende
Sobre o amor, sobre a ausência, sobre perda e sobre a saudade

O encontro é o preciso momento em que mesmo por um único instante
Você encontra o seu exato lugar em meio a esse turbilhão de perdas e adeuses
E enfim entende o onde, o quando e a quem você pertence

Pois a arte do encontro é a arte de pertencer...

Otávio Fraz

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Soneto ao Romance

Findado este livro de crônicas
Pequenas historias, passagens de amores
Efêmeras felicidades, punhados de dores
Parcos sentidos, pobres semânticas

Preparado enfim ao romance
De trama longa e complicada
Amores e longas jornadas
De vidas em reencontros vibrantes

As curtas jornadas se apagam
Euforias e palpitações se calam
E maculam quem fica pra traz

Inauguro agora o instante
Da histórias a caminhos distantes
A jornada ao destino de paz

Otávio Fraz

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ode às asas


I.

Inevitável a dor quando se ama
Há de doer pois amar é cisão
Em terra era firmada sua rama
Mas precipício foi sua opção

É como estar pairando no ar
Sua asa completada por outra
Um par em sintonia louca
O mais belo horizonte a enxergar

Quando falha uma asa, cisão!
Faz parte da trama da paixão
O chão um dia chegar 

Em queda então se encontra
No fundo, no poço, na lama 
Acaba-se indo parar 



II.

Aprendi sobre quedas e abismos
Há forças para subir de volta ?
Eu agora com a asa torta
Desejando ser esquecido

Durante a subida, lembranças
Paixão, pulsar de novo ?
Do amor, valeu o esforço ?
E durante a subida, esperança 

Inevitável a dor quando se ama 
O coração bate e reclama
Forças para voar de novo

E uma vez mais se joga
E agora com asas novas
Solo é seu novo voo 



III. 

Aqui de cima enxergo o mundo
De horizonte a horizonte 
Meu destino é o distante 
E o amor acima de tudo

Vejo outros desvanecendo
Como a pouco também caí
Pois dependia de outro aqui
Outro coração também batendo

Não haveremos de ser metade
Inteiro assim somos parte
Do amor que auto se proclama

Juntos rumo ao horizonte 
Buscado a precisão do instante
Da independência entre a dor e quem ama 

Otávio Fraz